segunda-feira, 24 de novembro de 2014


A associação do mito de Deméter e Perséfone ao sequestro das meninas nigerianas só mostra o quanto estamos mergulhadas nos Mistérios Eleusinos que nos fazem olhar o mundo desde novas perspectivas quando pensamos sobre as mães e as filhas.
Uma associação perfeita, coisas de Ana Liési Thurler, é claro, como não podia deixar de ser!


Deméter contemporânea: Bring back our girls, por Ana Liési Thurler. 

Deméter no século XXI, novas dores



À deusa Deméter Homero dedicou um de seus hinos mais extensos e à filha Perséfone, Zeus ofereceu a dádiva de uma longevidência  gravitroante. Mãe e filha convivem metade do ano quando Penélope, fecunda, semeia os campos que florescem e frutificam. Outra metade do ano, elas cumpriam o acordo com Hades, o seqüestrador: mãe e filha separavam-se.
Finalmente, Zeus, o gravitroante longevidente, envia a mensageira Réia para conduzir Deméter e Perséfone ao Olimpo, reunindo-as.

Sofrimento de Deméter contemporânea




As mulheres sabem que as boas relações entre as irmãs, o affidamento, a sororidade as empoderam. A cumplicidade entre mãe e filhas também as fortalecem diante do patriarcado. 
Recentemente o mundo viu, na Nigéria, mais de 200 meninas serem seqüestradas. Mães desesperadas diante do fato de meninas com destino ignorado, sem saber as razões dessas separações.


Perséfone negra na atualidade



No século XXI, o desenvolvimento científico e tecnológico não avançou em harmonia com práticas éticas e de respeito aos Direitos Humanos. Ainda temos tráfico de pessoas – especialmente mulheres, especialmente do sul para o norte do equador, dos países pobres para os países ricos – para o comércio de órgãos, para trabalhos escravo e degradante, para alimentar a rede mundial de prostituição.
Em 14 de abril de 2014, 276 meninas nigerianas foram seqüestradas em Chibok, estado de Borno, pelo grupo Boko Haram anunciando que as meninas seriam vendidas a homens interessados em casar com elas. 
Zeus ainda enviará alguma mensageira - uma nova Réia - para unir e empoderar mães e filhas, em um mundo sexista e androcêntrico? Ou essa cumplicidade ainda terá de ser arduamente construída contra todas as adversidades?

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