segunda-feira, 8 de dezembro de 2014


A partir das leituras de Chaucer sobre o que querem as mulheres, a instigante produção da Ana Liési sobre a pergunta que sempre se repete!




“Mulheres livres”, por Ana Liési Thurler.

Os homens insistiram sermos indecifráveis e nos ligaram a uma interrogação que reverberou no século XX, especialmente na voz e nos textos de Sigmund Freud: o que quer uma mulher? Atribuída a ele, essa questão foi colocada com precedência de seiscentos anos por Geoffrey Chaucer (1343-1400), em sua obra inacabada, Contos de Cantuária, iniciada em 1386 e publicada em 1475. Então, o autor apresenta no conto A mulher de Bath, Alice já se perguntado: que desejam, afinal, as mulheres?
Nas últimas décadas, as mulheres passamos mais e mais a refletir coletivamente. Então, uma auto-compreensão se expandiu e fortaleceu. E é como sujeito livre que as mulheres desejamos estar e agir no mundo. Sujeito de escolhas sobre nossas vidas e nossos corpos. Parece coisa simples e menor, mas foi – e continua sendo - questão de disputas ainda em nossos dias. Ao longo de milênios homens se apropriaram de nós, como  objetos de sua propriedade. Na figura do pai, do marido, do filho, do padre, do papa, do juiz, do desembargador, do médico, do ministro, do delegado. Decidiram por nós, decidiam, legislavam e ainda legislam sobre nós.
Enfim, o que queremos as mulheres? Com clareza, sabemos: liberdade sobre nossas vidas e nossos corpos. Relembremos os versos de Cecília Meireles:

“Liberdade — essa palavra
que o sonho humano alimenta:   
que não há ninguém que explique,
e ninguém que não entenda!”

Las chicas raras, as mulheres ventaneras, sim, explicamos. A liberdade é o direito — e o dever — intransferível de decidir sobre nossas vidas e nossos corpos, como sujeitos que deixaram a condição de menoridade, na qual obstinadamente o patriarcado pretendeu nos manter.

Um comentário:

  1. Que texto forte, Ana Liési! As mulheres que passam por aqui deveriam parar, ler, e talvez, ironizar o Pai da Psicanálise. Vejam bem, ele integra o patriarcado. Freud, meu caro, "aquilo" não faz o homem pensar direito. Afinal, o que quer um homem? Quer usar "aquilo" nas mulheres, é óbvio. Mas, por temor, primeiro tenta subjugar nosso ânimo. "Aquilo" é visível, proeminente, mas das nossas profundezas só nós sabemos e ele teme o mistério.

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